terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Contudo, ainda gosto de Adele.

Acordei cantarolando algum tipo de canção que falava, daquelas que a gente ignora a melodia e engole a seco cada sílaba. De repente, me vi num outono distante, numa madrugada beirando a janela, com fones de ouvido servindo-me de espada. De repente, a dor passou. A letra se perdeu na melodia que reconheci de imediato. Estranha essa vida da gente, as coisas vão ficando para trás como se fossemos esquecendo de quem éramos. Como se "ser" fosse uma condição abstrata e completamente dependente do "ser" alheio. E eu era uma menina de espada nos ouvidos, que não se movia para retirá-las. A dor de sentir é gostosa de sentir, entende? A música, ora, tornou-se uma qualquer, estranhamente reconhecida por quem fui, por quem deixei-me transformar sem saber.
Prometi a mim mesma durar. A letra da canção já não conversa intimamente com meu presente, e que presente é esse que eu não canso de desembrulhar e sorrir? Prometi a mim mesma que iria sorrir na proporção que já chorei, mas tenho trapaceado um bocado. Culpa minha ter faltado dor para tamanha alegria?
Por enquanto, quebro promessas e ouço melodias.
Uma menina sem espada nos ouvidos. Um paradeiro de si mesma.

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