terça-feira, 26 de junho de 2012

Ilegal



Desde então tua voz cantou-me uma canção novamente
Como um sopro de vento, baixa e fria
Como tua companhia em uma noite calada
Duas luas acesas, infiéis lamparinas

Teus olhos fitaram os meus e dançaram
Uma dança inquietante de amor perdido
E quantos olhos partidos nos restam ao amanhecer do dia?
Quantos garrafas esvaziarei?

Sonhos cruéis ao cair da tarde
Um amor covarde é sempre um amor vencido
Pela própria fraqueza de querer e não ter
De não ter lutado, mas ter perdido.

domingo, 29 de janeiro de 2012

Paradoxo.

Gosto quando o verão "inverniza". Não sei, mas no fundo pareço escutar a natureza esfregando em nossas caras o quão burra é a nossa mania de sempre buscar exatidão nas coisas.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Contudo, ainda gosto de Adele.

Acordei cantarolando algum tipo de canção que falava, daquelas que a gente ignora a melodia e engole a seco cada sílaba. De repente, me vi num outono distante, numa madrugada beirando a janela, com fones de ouvido servindo-me de espada. De repente, a dor passou. A letra se perdeu na melodia que reconheci de imediato. Estranha essa vida da gente, as coisas vão ficando para trás como se fossemos esquecendo de quem éramos. Como se "ser" fosse uma condição abstrata e completamente dependente do "ser" alheio. E eu era uma menina de espada nos ouvidos, que não se movia para retirá-las. A dor de sentir é gostosa de sentir, entende? A música, ora, tornou-se uma qualquer, estranhamente reconhecida por quem fui, por quem deixei-me transformar sem saber.
Prometi a mim mesma durar. A letra da canção já não conversa intimamente com meu presente, e que presente é esse que eu não canso de desembrulhar e sorrir? Prometi a mim mesma que iria sorrir na proporção que já chorei, mas tenho trapaceado um bocado. Culpa minha ter faltado dor para tamanha alegria?
Por enquanto, quebro promessas e ouço melodias.
Uma menina sem espada nos ouvidos. Um paradeiro de si mesma.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Selos ainda existem?


Queria a permissão para escrever uma carta, daquelas que a gente escolhe cuidadosamente o papel certo e a caneta que desliza melhor. Queria que compreendessem que não quero endereçá-la a ninguém.

Faz tempo que eu mudei de cara e você não sabe. Mudei de cara e de cara: rosto e companhia. No rosto, pintei um sorriso rascunhado de felicidade, chegou a borrar um pouco nos cantos de tão largo que o fiz. Aquela boca fechada - e cérebro fechado - deram lugar à uma amplitude de vozes. Todas minhas.
Da velha companhia, fiz saudade morna e amena. Que não dói, não cheira, parece já não existir, pois permanece dormindo junto às outras saudades grandes que se tornaram pequenas. Do lado das saudades grandes, não guardo pessoas. Guardo instantes. Uma brincadeira de roda - e já não me lembro quem girava comigo. Um choro sincero e medroso do escuro - e já não me lembro quem foi que me causou. Um beijo em uma esquina azul - e já nem lembro quem o roubou. Separar instantes de pessoas dentro de saudades grandes e pequenas me libertou. Tão bom ser livre de si mesma.
A nova cara tem sorriso aberto e borrado. O novo cara sorri e chora na mesma intensidade. Incrível, não é? Você não sabe, mas eu passei a chorar e sorrir na intensidade do laço que nos une. Ele tem feridas latejantes, daquelas que a gente olha de cima com espanto, procurando ver o osso lá no interior de tudo. Embora tenha a carne fraca e machucada, ele tem ossos fortes, ainda bem.
A gente tem se apoiado enquanto caminha, e fazemos de tudo para desviar dos buracos. O caminho é divertido e cantarolante, alternando letras e melodias. As coisas tem sorrido para mim, assim como uma janela se abrindo sorri para o dia. De repente ficou tudo azul e você não sabe, tenho tido medo de olhar estrelas.

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Um desafeto amoroso.

Era improvável notar que a casa estava caindo diante dos meus olhos e que eu já não tenho forças, nem vontade de reconstruir. "Deixa estar" - Repeti para mim incontáveis vezes, mas, de um tempo para cá, tenho ficado rouca de tanto repetir.
Um amor amargo e azedinho. Alfinetado e passado a ferro quente, como se cada dobra amassada fosse um erro incorrigível dentro da sua cruel e estúpida mania de perfeição. Logo você, tão imperfeita...
A convivência é amor enquadrado em paredes, é a prova maior de compreensão. Que exercício diário de engolir palavras, de degustar seu sabor intragável e de não poder cuspi-las por qualquer laço respeitável que nos une.
Pego-me pensando nos anos percorridos por aqueles pés surrados e sofridos e aquelas mãos artísticas, e me dói o julgamento. Meus pés lisos e bem calçados, minhas mãos macias. Um egoísmo não aceitar sua amargura.
E que amor fantasmagólico, discreto, sanguíneo.
Que distância absurda de pensamentos.
Deixar estar. Ainda me restou um pouquinho de voz, mas eu espero que não se importe se eu te amar em silêncio.

Desequilíbrio harmonioso.

Primeiramente - odeio começar frases com advérbios. Também não consigo conter minha inquietude ao ver um título seguido de ponto final. Terei de me justificar, então.
Já escrevi demais, é verdade, e cheguei a conclusão de que isso me move. Ingratas letrinhas, se agrupam sozinhas em minha mente, e ficam lá, dançando, esquizofrênicas, eu diria. Um basta não basta. As rimas me cansaram, vou apostar em construções pessoais. Não sei ao certo se as ideias que transitam dentro de mim farão algum sentido. Eu ponho pontos finais em títulos agora, como se quisesse encerrar o assunto, como quem quer falar e falar e não ouvir, ao menos, um eco. Precisava desse momento só para mim.
Acho interessante essa proposta nova, esse novo blog será eu inteira e curiosamente. Um avesso exposto, uma feridinha aberta, aquele corte pequeno, mas doloroso.

Despi-me de eu-líricos.

As cordas bambas? Ora, dispensam explicações.